Quando confrontado com perguntas assim, se faz necessária uma definição refinada para evitar confusões. Vamos nos referir aqui a um astrônomo como alguém que faz pesquisa em astronomia, ou seja, tenta encontrar razões e evidências que apontem para a compreensão de uma variedade de problemas que podem chegar até os confins e os primórdios do Universo. Segundo esta definição, um astrônomo é um pesquisador. Não basta só ter um diploma em que esteja escrito que cursou estudos afins à Astronomia. Assim, podem ser tranquilamente chamados de astrônomos uma série de profissionais que, na verdade, cursaram outros estudos, mas que se tornaram pesquisadores.
De fato, a maioria dos astrônomos no Brasil e no mundo tem estudos em Física, Matemática ou até outras disciplinas como Engenharia. Existe o curso de graduação universitária do Observatório de Valongo, no Rio de Janeiro, enquanto o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (São Paulo) teve sua primeira turma da carreira Bacharelado em Astronomia em 2009, mas estes não são imprescindíveis para se trabalhar como astrônomo. Muitas vezes, dependendo do rumo dos interesses do candidato, é preferível ter uma formação básica ligada àquelas ciências “mães”.
Como é então que alguém “vira” astrônomo? Geralmente, no Brasil, o caminho tem sido o de fazer estudos de pós-graduação em instituições que oferecem cursos específicos de Astronomia , para Mestrado e Doutorado (lista completa no site da CAPES (http://www.capes.gov.br/capes/portal/). É bom deixar claro que, a esta altura do desenvolvimento astronômico brasileiro, somente depois do Doutorado é que os astrônomos começam a procurar um emprego, em face da elevada qualificação necessária para pleitear com sucesso uma vaga profissional. Na prática, passam-se quase 10 anos entre um ingresso a uma carreira universitária e o momento onde o astrônomo está em condições de se fixar num emprego. Os estudos de pós-graduação são geralmente financiados com Bolsas de Estudos federais (CNPq, CAPES) ou estaduais (FADESP-São Paulo, FAPERJ-Rio, etc.), as quais permitem viver, mas não constituem um emprego real.
E onde é que são oferecidas as vagas de trabalho? Embora exista uma lenta abertura para empregos em instituições alternativas, a maioria absoluta dos astrônomos brasileiros encontrou até agora emprego nas Universidades e Instituições de Pesquisa públicos, estaduais e federias. Isto que dizer que os astrônomos brasileiros (e boa parte dos colegas pelo mundo afora) são pagos com dinheiro público. Em muitos casos o astrônomo é também professor universitário, com todas as vantagens e desvantagens que isso implica.
Finalmente é possível perguntar em que consiste, na prática, a atividade do astrônomo. No dia a dia, o astrônomo lida com um monte de coisas, mas quase nunca com telescópios. Mesmo aqueles astrônomos que propões observações para esclarecer assuntos da pesquisa de ponta estão muito pouco nos observatórios, no máximo algo como uma ou duas semanas por ano. No restante do tempo os astrônomos passam analisando os dados obtidos, tarefa que envolve forte trabalho de computação e tratamento de imagens. Existe uma boa quantidade de astrônomos profissionais que nunca viu um telescópio na sua vida, já que lida com teoria, simulações numéricas e outros ramos da Astronomia que não envolvem diretamente dados de telescópios. É importante pensar todos esses recursos (telescópios, satélites, computadores, etc.) como ferramentas para compreender a Natureza e considerar a curiosidade, capacidade de trabalho, interesse e gosto pelas Ciências em geral como características importantes; aliás, as verdadeiramente essenciais para um futuro astrônomo.
Referência
Horvath, J.E.(Jorge Hernesto). O ABCD da astronomia e astrofísica, pág. 221. Editora Livraria da Física, 2008.
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